‘Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado’
O amor é um encontro entre quereres. Quando um não quer, dois não
amam. É triste quando alguém se convence que é possível amar por dois. O
coração maltrapilho se ilude a vestir, todos os dias, sua fantasia de
ser-amado. Persiste em dançar sem se dar conta de que a festa acabou.
Cadeiras empilhadas, música desligada, luzes apagadas. Não há mais uma
alma viva no salão. É… o coração não sabe ainda, mas está em plena
quarta-feira de cinzas.
Ora, “o que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?” Eu me arrisco a responder Drummond: ser amada. O que a criatura humana quer, mais do que amar, é ser amada. Há um desejo de reconhecimento e aceitação, isso é universal (o que não significa dizer que a obsessão por esse estado seja algo saudável). As pessoas querem ser atravessadas pelo olhar admirado do outro, querem ser curtidas, querem amor. Alguém não quer? Por isso parece tão desesperador quando o outro não topa sentar na gangorra do lado de lá. Não dá pra brincar na gangorra sozinho. Então, não vai ter brincadeira!
Mas porque raios a pessoa não lê os sinais? Acho que faltou à aula de literatura sobre: O Amor Romântico Não Existe — Ele Vende Filmes em Hollywood. Platonismo, masoquismo, sofrismo? É simples a resposta: o sujeito não sabe perder. É um desesperado por ganhar, então, lá vai o coração a implorar por amor. Esfomeado, mimado, o mendiga. Estende a mão trêmula e chora: — Por favor uma esmolinha senhor, por favor, não me negue seu olhar.
É humilhante travar uma luta para convencer a pessoa a gostar de você! Amor não se obriga, não carece convencimento, nem persuasão. Ou é ou não é. Ou quer ou não quer. Quem quer estar ao nosso lado, de verdade, vai sim sempre encontrar uma forma de permanecer — aviso: nesse estabelecimento não trabalhamos com não, nem talvez. Amor é ação, amor é sim, a gente bate no peito e vai viver!
Aquele que vive desesperadamente mendigando ser amado perde a chance de amar honestamente. Sim, quer ser amado ao preço de não poder amar. Isso é tão injusto com a gente. Amar é aceitar, também, que existe uma falha em si e no outro. Esmolar o amor é justamente não aceitar que há uma falta em nós, na qual carecemos aprender a lidar ou morremos insatisfeitos.
Um coração-mendigo esmola, antes de mais nada, o seu amor próprio. É isso! Tá faltando amor cativo à própria história, às realizações, às boas lembranças e às quase certezas sobre quem somos. É piegas, mas acreditem é assim que é. A gente se esquece de lembrar do que construímos de melhor até então. Duvidamos se somos mesmo especiais, bonitos o suficiente, interessantes o bastante. A gente dá uma delirada. Sério! Ficamos cegos e entorpecidos pelo não do outro, como quem diz não à sua própria existência. O amor-mendigo é resultado de um curto-circuito na capacidade de se auto amar, de se auto estimar, pois a outra pessoa encontra-se fantasiosamente misturada a nós. Por isso, parecemos tão perdidos quando o outro não quer mais.
O amor próprio não se apodera com um querer, nem tão pouco com o estalar de um dia. Amar a si, da mesma forma que amar ao outro, é uma construção. É dia a dia. É um enamoramento eterno. Exige disposição, engajamento. Tem que seduzir. Tem que investir. Se pintar, se acariciar, prestar atenção no que traz felicidade. Passar a dar ouvidos às intuições, sem tantos receios. Escutar as coisas bonitas que moram dentro da gente. Cultivar o que nos traz o bem. Amor próprio também é convivência. É cuidar dos nossos detalhes. É enfeitar nosso lar-coração. É trazer flores para casa. É adoçar o café ao nosso gosto. E às vezes é limpeza, varrer a sujeira deixada por corações baderneiros. Que tal começar a faxina hoje? Por onde? Você sabe, claro que sabe, o amor é seu.
*Título tomado de empréstimo de Carlos Drummond de Andrade.
Fonte - Ruth Borges , Revista Bula abril/2016
Ora, “o que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?” Eu me arrisco a responder Drummond: ser amada. O que a criatura humana quer, mais do que amar, é ser amada. Há um desejo de reconhecimento e aceitação, isso é universal (o que não significa dizer que a obsessão por esse estado seja algo saudável). As pessoas querem ser atravessadas pelo olhar admirado do outro, querem ser curtidas, querem amor. Alguém não quer? Por isso parece tão desesperador quando o outro não topa sentar na gangorra do lado de lá. Não dá pra brincar na gangorra sozinho. Então, não vai ter brincadeira!
Mas porque raios a pessoa não lê os sinais? Acho que faltou à aula de literatura sobre: O Amor Romântico Não Existe — Ele Vende Filmes em Hollywood. Platonismo, masoquismo, sofrismo? É simples a resposta: o sujeito não sabe perder. É um desesperado por ganhar, então, lá vai o coração a implorar por amor. Esfomeado, mimado, o mendiga. Estende a mão trêmula e chora: — Por favor uma esmolinha senhor, por favor, não me negue seu olhar.
É humilhante travar uma luta para convencer a pessoa a gostar de você! Amor não se obriga, não carece convencimento, nem persuasão. Ou é ou não é. Ou quer ou não quer. Quem quer estar ao nosso lado, de verdade, vai sim sempre encontrar uma forma de permanecer — aviso: nesse estabelecimento não trabalhamos com não, nem talvez. Amor é ação, amor é sim, a gente bate no peito e vai viver!
Aquele que vive desesperadamente mendigando ser amado perde a chance de amar honestamente. Sim, quer ser amado ao preço de não poder amar. Isso é tão injusto com a gente. Amar é aceitar, também, que existe uma falha em si e no outro. Esmolar o amor é justamente não aceitar que há uma falta em nós, na qual carecemos aprender a lidar ou morremos insatisfeitos.
Um coração-mendigo esmola, antes de mais nada, o seu amor próprio. É isso! Tá faltando amor cativo à própria história, às realizações, às boas lembranças e às quase certezas sobre quem somos. É piegas, mas acreditem é assim que é. A gente se esquece de lembrar do que construímos de melhor até então. Duvidamos se somos mesmo especiais, bonitos o suficiente, interessantes o bastante. A gente dá uma delirada. Sério! Ficamos cegos e entorpecidos pelo não do outro, como quem diz não à sua própria existência. O amor-mendigo é resultado de um curto-circuito na capacidade de se auto amar, de se auto estimar, pois a outra pessoa encontra-se fantasiosamente misturada a nós. Por isso, parecemos tão perdidos quando o outro não quer mais.
O amor próprio não se apodera com um querer, nem tão pouco com o estalar de um dia. Amar a si, da mesma forma que amar ao outro, é uma construção. É dia a dia. É um enamoramento eterno. Exige disposição, engajamento. Tem que seduzir. Tem que investir. Se pintar, se acariciar, prestar atenção no que traz felicidade. Passar a dar ouvidos às intuições, sem tantos receios. Escutar as coisas bonitas que moram dentro da gente. Cultivar o que nos traz o bem. Amor próprio também é convivência. É cuidar dos nossos detalhes. É enfeitar nosso lar-coração. É trazer flores para casa. É adoçar o café ao nosso gosto. E às vezes é limpeza, varrer a sujeira deixada por corações baderneiros. Que tal começar a faxina hoje? Por onde? Você sabe, claro que sabe, o amor é seu.
*Título tomado de empréstimo de Carlos Drummond de Andrade.
Fonte - Ruth Borges , Revista Bula abril/2016