O amor não precisa ser perfeito, precisa ser possível
Em nome do amor, a gente sai por aí com um check list na mão,
obstinado a encontrar o bendito ser iluminado, capaz de cumprir toda
tabela de requisitos que precedem uma relação supostamente feliz. Ok
para isso, não ok para aquilo! E riscamos o outro (ou somos riscados)
com o implacável marca texto cor neon, quase um ditador, que insiste em
nos lembrar, o quanto o sujeito é imperfeito demais para nós. Final das
contas: não serve, está demitido de nosso coração por justa causa, a de
não ser sublime.
Estar apaixonado é fazer uma conta que não fecha. Não há matemática capaz de explicar os sentimentos quando acontecem. Vêm feito torrente, atropelando, arrastando e desorganizando qualquer suposição antecipada, pois a verdade é que o sentimento está se lixando para esse guia de amores dos sonhos. Ele só quer se encantar. Assim como a morte, o amor também pode ser fatal, mas se a gente sai com um manual do ser encantado na mão, provavelmente não nos daremos conta de sua deliciosa fatalidade quando surgir. O amor, então, não passará de um desconhecido na fila do banco dos corações endividados, ao qual negamos dar um simples bom dia.
Estaríamos nós nos esquivando de amar, ao preconizar o perfeito? Ora, somos a soma dos amores que vivemos e isso não significa que saímos sempre ilesos de todas as histórias de amor. Vivemos também amores malcriados, daqueles que nos retalham a esperança por dentro. Para toda dor imensa há uma defesa e, talvez, tenhamos inventado esse índice seletivo com a missão de escaparmos de qualquer possibilidade de sofrer. No fundo, estamos mesmo é borrando nas calças de medo e por isso insistimos em seguir carregando, em baixo do braço, essa inflexível lista que nos livra do sofrimento, ao custo de não viver coisa alguma.
Consideremos provável que a impossibilidade de se conectar ao outro, verdadeiramente, possa ser resultado de algo que se encontra quebrado dentro da gente. Trata-se de nossa imperfeição, seguramente faltosa, com a qual não sabemos lidar, por isso a expulsamos para o outro. São feridas narcísicas, ainda sangrando, das quais não queremos nos curar. O resultado é que tentamos obsessivamente encaixar o sujeito nesse modelo do impossível.
Mas o amor é para quem acredita nele, não em sua perfeição, mas em suas possibilidades. Ele talvez queira apenas ser esbarrado ao dobrar a esquina, ao acaso, por alguém que nada mais procura encontrar. Por aquele que desistiu de apanhar a própria sombra. Sempre imaginei que para enxergar o amor nos fosse preciso andar desavisado, como faz um despretensioso andarilho, que já não espera tanto assim do tempo e do mundo.
O amor não precisa ser perfeito, precisa ser possível. É que no imperfeito há sempre um cômodo desconhecido, o qual ainda não visitamos. Nele, o fascínio é capaz de nascer e morrer quantas vezes forem necessárias à sua construção e sobrevivência. O amor sobrevive no aprendizado, na paciência, na beleza e na coragem de imergir. Aliás, ele é para gente ousada, que não teme o improvável, que submerge na imensidão. O amor não costuma mergulhar em gente rasa, e se for empurrado, afogará na própria imagem. Morre encantado no reflexo de um espelho d´agua, inventado para não conceber o imperfeito como possível.
Estar apaixonado é fazer uma conta que não fecha. Não há matemática capaz de explicar os sentimentos quando acontecem. Vêm feito torrente, atropelando, arrastando e desorganizando qualquer suposição antecipada, pois a verdade é que o sentimento está se lixando para esse guia de amores dos sonhos. Ele só quer se encantar. Assim como a morte, o amor também pode ser fatal, mas se a gente sai com um manual do ser encantado na mão, provavelmente não nos daremos conta de sua deliciosa fatalidade quando surgir. O amor, então, não passará de um desconhecido na fila do banco dos corações endividados, ao qual negamos dar um simples bom dia.
Estaríamos nós nos esquivando de amar, ao preconizar o perfeito? Ora, somos a soma dos amores que vivemos e isso não significa que saímos sempre ilesos de todas as histórias de amor. Vivemos também amores malcriados, daqueles que nos retalham a esperança por dentro. Para toda dor imensa há uma defesa e, talvez, tenhamos inventado esse índice seletivo com a missão de escaparmos de qualquer possibilidade de sofrer. No fundo, estamos mesmo é borrando nas calças de medo e por isso insistimos em seguir carregando, em baixo do braço, essa inflexível lista que nos livra do sofrimento, ao custo de não viver coisa alguma.
Consideremos provável que a impossibilidade de se conectar ao outro, verdadeiramente, possa ser resultado de algo que se encontra quebrado dentro da gente. Trata-se de nossa imperfeição, seguramente faltosa, com a qual não sabemos lidar, por isso a expulsamos para o outro. São feridas narcísicas, ainda sangrando, das quais não queremos nos curar. O resultado é que tentamos obsessivamente encaixar o sujeito nesse modelo do impossível.
Mas o amor é para quem acredita nele, não em sua perfeição, mas em suas possibilidades. Ele talvez queira apenas ser esbarrado ao dobrar a esquina, ao acaso, por alguém que nada mais procura encontrar. Por aquele que desistiu de apanhar a própria sombra. Sempre imaginei que para enxergar o amor nos fosse preciso andar desavisado, como faz um despretensioso andarilho, que já não espera tanto assim do tempo e do mundo.
O amor não precisa ser perfeito, precisa ser possível. É que no imperfeito há sempre um cômodo desconhecido, o qual ainda não visitamos. Nele, o fascínio é capaz de nascer e morrer quantas vezes forem necessárias à sua construção e sobrevivência. O amor sobrevive no aprendizado, na paciência, na beleza e na coragem de imergir. Aliás, ele é para gente ousada, que não teme o improvável, que submerge na imensidão. O amor não costuma mergulhar em gente rasa, e se for empurrado, afogará na própria imagem. Morre encantado no reflexo de um espelho d´agua, inventado para não conceber o imperfeito como possível.
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