O Partejar
Nelson Antonio
Fantasio-me alvamente, o branco moço,
E calmas mãos bateiam o mistér divino
De garimpar duas almas, da fruta o seu caroço,
No caudal imprevisível do destino.
Velo, atento ao ventre, a dupla peça
Ouvindo com cuidado extremo os seus ruídos
A cada contração estou ao lado, sou obstetra
Traduzo a nave-mãe em seus gemidos.
Assim pouco a pouco vai-se abrindo
O túnel da vida de onde todos saímos
Num desabrochar de dor e de encantamento.
E quando a vida explode de repente
Num choro de criança, eu sinto profundo
O sinal que Deus ainda acredita neste mundo !
Nenhum comentário:
Postar um comentário