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domingo, 12 de dezembro de 2010

INCISIVIDADE , DESAMOR !

INCISIVIDADE, DESAMOR!

A incisividade sempre encarei como desamor... uma grande prova de desatitude conosco que, quem nos despedaça e fragmenta na frieza cruel de uma lâmina , rotulam de franqueza ou sinceridade absolutas.
Pessoas que nos cortam, como se fôssemos legumes para fazermos parte da grande sopa no caldeirão bruxo da existência humana , são apenas pessoas que querem pedaços de nós mesmos e não o nosso todo.
Sinto tanta vergonha, sinto-me tão inadequado quando apresento-me inteiro e me fazem rodelinhas de mim mesmo talvez para sermos mais facilmente digeríveis ou ter aceitabilidade consentida pelo outro.
Já fiz isto com meu pequenino filhinho Cristiano de 7 aninhos. Eu, encharcado e exposto pela chuva , plantava com dificuldade algumas mudas de rosas, debaixo de uma tempestade torrencial , quando meu Cris achegou-se perto de mim no jardim e com um enorme papelão branco na mão, dizia-me
-Tome, papaizinho. Eu trouxe procê... o que eu fiz agorinha com minhas canetinhas novas .Veja !
Assustado com o filhinho ensopado até os ossos , de camisinha de meia,naquele aguaceiro, gritei-lhe:
-Passa para dentro, depressa! Vá antes que apanhe!Quem mandou você vir até aqui debaixo deste temporal?Quer morrer de pneumonia debaixo desta chuva?Passa logo pra dentro ! - gritei aos berros .
Meu menininho com carinha assustada e desapontada correu depressa para dentro da casa, largando o papel pelo chão do quintal, e a chuva ficou ali a lavar aquele seu papel enorme que boiava sobre uma poça de chuva no jardim barrento. Curiosamente, notando que o papel se borrava e tingia a poça dágua em mil cores, peguei-o para ver de que se tratava . Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver um desenho infantil todo se manchando pelas tintas de canetinhas multicores misturando-se mas onde ainda se podia ver sem muita dificuldade,com alguma nitidez, a figura mal desenhada de um rosto disforme com um enorme bigode e cabelos enormes pretos que só podiam ser o meu.
Corri para dentro de casa, abracei meu filho fortemente em meus braços e falei-lhe com paternal ternura:
- Desculpe, Cris.... a ignorância de seu pai. O desenho estava lindo e eu o perdi. Vamos tomar um banhinho juntos que estamos ensopados. Obrigado pelo presente do Dia dos Pais...valeu mesmo!
C'Est la vie... muitas vezes não damos a oportunidade para que momentos lindos e indeléveis se façam na nossa vida. Cortamô-los como se corta o destino por sermos incisivamente francos e sinceros com quem quis apenas nos cativar com um gesto de Amor e de ternura conosco, mal compreendido num primeiro momento.
nelson antonio, médico de almas, aprendiz de poeta e de si mesmo.

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