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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sou um tatuzinho-de jardim...








Sou um tatuzinho-de jardim...

( Tatu-bolinha ou tatuzinhos -de- jardim ou, ainda, bichos-de - conta )

nelson antonio, um tatuzinho- bola
Quando eu era pequenino,tinha lá meus oito anos, costumava fugir da agitação da casa, onde viviam meus 8 irmãos, suas namoradas, seus milhões de amigos , meus pais e as duas empregadas, e ia me refugiar nos jardins que a circundavam, principalmente debaixo de uma grande escada-caracol. que nos levava para um andar superior onde se situava nosso recanto de estudos e de lazer. Debaixo desta escada, havia muita terra úmida e fofa, berçário de mil folhinhas multicoloridas coloridas, as marias-sem-vergonha , um montoeiro de detritos vegetais pra todo canto e debaixo das pedras, à sombra de uma espirradeira que nos dava constantemente flores cor rosa-choque, e neste cenário eu via correr pra lá e pra cá um verdadeiro exército de pequenos tatuzinhos-de jardim, com várias matizes de cores entre o rosa atéo cinza e o negro profundo, que eram meu deleite.
Com minhas mãozinhas de menininho , em concha, eu as enchia com estes bichinhos encantadores que subiam com suas dezenas de pezinhos rápidos, como pequenas centopéias inofensivas, isópodes que são, pelos meus antebraços e braços e se escondiam em minha blusa escolar, ávidos por uma raiz macia e deliciosa que era a sua alimentação favorita.Faziam de meu pequeno tórax um verdadeiro tobogã , num sobe e desce sem fim...que eu adorava como se fosse uma mágica .Feliz como quem guarda pirilampos na caixa de fósforos e se diverte com suas luzinhas verde-amareladas.
Às vezes, eu tocava com meus dedinhos estes pequenos bichinhos e eles, como num passe de mágica, se enrolavam totalmente e tornavam-se uma bolinha perfeita, como se a defenderem de meus toques falsamente intimadores. Então , o meu prazer era vê-los lépidos e serelepes e, num repente, virarem bolinhas aos montes, acuados e imóveis até que, passado o iminente perigo, espichavam-se de novo e , em segundos, corriam de novo pela terra úmida a procurar abrigo por sob a terra. Eu ficava ali horas e horas, brincando com meus amiguinhos numa doce brincadeira de ora vê-los correr e ora de vê-los enroladinhos a um toque qualquer meu .
Hoje sou moço velho e aprendi com meus tatuzinhos-de-jardim , estes pequenos crustáceos, parentes das lagostas,membros do gênero
Armadillidium , a ter igual procedimento na minha vida: sigo célere a minha vidinha comum e quando sou tocado por algo que julgo ameaçador, ou que deduzo que me fará um mal medonho, em defesa própria eu me enrosco todo e me fecho como um tatuzinho- de- jardim, por horas, dias e até semanas. Passado o perigo, a ameaça, o temporal emocional que desabou, ou não, eu me desenrolo devagarinho e vou tocar a minha vida normalmente.
Achava que isto só acontecia comigo mas hoje descubro que outras pessoas minhas queridas usam às vezes a mesma tática de se enrolarem por uns tempos, virando tatuzinhos-de - jardim fechados, intransponíveis, quando o mundo agressivo e hostil lá fora as torna vulneráveis, carentes , hipersensíveis, desprotegidas.
Como entendo bem de tatuzinho-de jardim, pois eu mesmo sou ou me comporto como um deles, os compreendo e procuro entender estes momentos de fechamento e isolamento emocional, com respeito e identificando-me neles. Acho que o menino que sempre existe em mim me ensina muito da vida. E meus simples tatuzinhos-de-jardim , tão pequeninos e insignificantes, espalhados pelos jardins da vida, continuam a serem meus professores na difícil arte de entender porque as pessoas fogem de mim, não aceitam meus préstimos e pedem-me um tempo para administrarem seus momentos carenciais com elas mesmas.E eu tenho igual procedimento de fechamento interior.
Pacientemente, espero a abertura delas e , então, como num passe de mágica , um dia elas voltam a entender que não sou tão horrorível como elas pensavam eu ser. Desenrolam-se E vamos juntos então, sem receios, lado a lado, na doce ventura de brincar de viver e de vivenciarmos um ao outro, com Amor , cuidados e carinho. Fazendo de cada dia uma saudade bonita a ser lembrada quando não mais formos.Como a saudade que tenho dos meus tatuzinhos-de-jardim que brincavam comigo e eram todo o meu encanto de menino que fui!E ainda persisto em ser...

5 comentários:

  1. Olha que legal esse conto de Giba Pedroza, tem tudo a ver com o seu sentimento descrito:



    Contos do Quintal: Cena de Jardim
    Era uma vez o menor jardim do mundo. E, se era assim, não foi porque tinha encolhido, mas sim porque o mundo havia crescido demais, e o jardim com as suas flores e a vida dentro dele foram se perdendo da vista dos homens, num cantinho cada vez menor de um mundo cada vez maior.


    Bem no meio do jardim, sentado em uma minúscula semente, um vovô tatu-bolinha conta histórias aos seus pequenos netos tatuzinhos e para as meninas joaninhas, que com seus quase-vestidos de bolinhas deslizam pelas pétalas das margaridas. Pertinho dali, algumas borboletas amarelas prolongam o pouso para ouvir a história que até o inquieto grilo se acalmou pra escutar.

    Quando o tatu-bolinha terminou de contar a história que falava de um tempo futuro em que não haveria mais jardim algum, o velho barão, um besouro de nobre família, disse com seu jeito rabugento e desanimado de sempre:

    - É, senhor tatu, o seu conto me faz pensar: o mundo não tem jeito, não há mais o que ser feito.

    - Pois eu digo que tem.

    Assim disse sorrindo o tatu-bolinha, apontando na direção de um homem e uma menina que se aproximavam.

    Depois de desviarem o seu caminho de uma trilha de formigas, avô e neta sentaram-se em um banco e ele começou a contar uma história. E, de dentro do jardim, todos aqueles olhinhos miúdos que não eram vistos, pararam para ouvir uma história que começava assim: "Era uma vez o menor jardim do mundo."

    O tatu-bolinha e o besouro olharam um para o outro e sorriram em silêncio.


    Giba Pedroza é contador de histórias há 18 anos e ama falar de jardim.

    Enviado por Estrela da Manha

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  2. Realmente um prazer muito grde conhecer e poder ler suas historias , ainda deu tempo de fazer parte dela .
    Abraço ,Ailton foguinho

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  3. Dr. Nelson é uma pérola de pessoa... gosto muito mesmo!!! Amo!

    Bjs,
    Dré

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  4. Amigo Dr Tatu Grandão! Pode se embolar à vontade, enfiar-se na terra e tentar se esconder. Não adianta! Vou sempre ver você de dentro para fora. Seu casco duro não me engana. Vejo você Tatu de corpo e alma. Se sarando e sarando a vida alheia! Não é verdade que os opostos se encontram! Eles se trombam. Os iguais é que se encontram e se somam. Um abraço somado procê!

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  5. eu mato esses tatus (eu sou demente)

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